segunda-feira, 28 de julho de 2008

Clássicos de classe




“Os clássicos escreviam tão bem porque não tinham os clássicos para atrapalhar.”
(Mário Quintana)

Mas... Espera um pouco...
Assim eu acabo ficando confusa...
Concordei com o Mário Quintana, logo que reli esta frase, guardada em minha agenda de 2000. Afinal, acabara de sair de discussões sobre textos e também de reflexões pessoais acerca de quem é que dita qual é o melhor jeito de escrever.
Mas, então, muitas outras idéias vieram à tona.
Quando fiz Letras (sim, fiz um ano de Letras!), aprendi que, entre os lingüistas, havia uma discussão sobre os clássicos. Alguns diziam que existiam, na história da humanidade, outros bons referenciais para textos. Eles foram esquecidos ou deixados à sombra por anos, séculos até, por não terem entrado na(s) lista(s) dos “mais-mais”. Outro questão era que esta classificação estava baseada em parâmetros ocidentais e descartava textos orais e escritos de outras civilizações.
Por outro lado, já há algum tempo, ao falarmos de Artes, dizemos que, para produzir bem, as crianças devem ter acesso a bons modelos. Ou seja, clássicos!
Em qualquer forma de expressão, de comunicação, é possível catalogar e achar uma boa listinha de clássicos, de bons modelos.
Mas, volto à questão de Mário Quintana: não corremos o risco de encaixotarmos o fazer, apresentando sempre as boas mesmísses de sempre?
Penso mais: os educadores, bem intencionados ou não, com experiência ou não, acabam atendo-se a estes modelos como um porto seguro, uma muleta e, muitas vezes, sem perceber, apresentam um modelo muito pior a seus alunos: ensinam que a Arte, em suas diversas formas de expressão, faz-se assim ou assado; que ela fica num lugar sagrado, fora do alcance dos mortais, que não têm acesso a ela.
Nós, educadores, esquecemos, de mostrar a nossos alunos e à sociedade, que o dia-a-dia é recheado de situações e experiências que exigem alguma forma de expressão.
Deixamos de mostrar nossa ousadia, de sermos modelos de fazer. Mostramos os clássicos, (que são realmente bons modelos), mas nos esquecemos de transportá-los para a nossa vida de polivalente. Fazemos isso quando não os experimentamos, não os vimos como parte de cada ser, objeto e atitude do cotidiano. Como, então, podemos “ensinar” nossos alunos a transformarem a boa expressão de alguém em parte da sua escolha de comunicação?
Escrever comunica.
Ler um bom clássico comunica.
Mas, ler o que meu colega escreveu, ou um outdoor também!
Poder conversar sobre as falhas de comunicação de determinado texto, talvez possa comunicar mais que um bom modelo.
Observar e estudar minhas falhas, também.
Tudo depende do olhar e da direção que o educador considera o objeto.
O equívoco é querer comunicar como um clássico ou exigir do outro que se expresse fora de sua capacidade, de sua vivência.
Por isso é que o polivalente deve refletir constantemente sobre sua prática, sobre seus alunos.
Enfim, alimentar é importante, mas cumpre tão somente necessidades básicas. Para considerar que bons modelos gerem criação, é preciso que eles proporcionem ao aprendiz mais que a receita. É desejável experimentar novos sabores, cheiros; é preciso degustar, atiçar o paladar; é imperativo ter o prazer de comer, devorar e cear com os iguais! É necessário ter vivenciado diversas vezes, de diferentes formas, até conseguir fazer sem necessitar da receita.

Denise Pinhas Pereira

Um comentário: