domingo, 17 de agosto de 2008

Planejar e sonhar


Foi divertido pensar em como eu planejo...
Para mim, parecia tão óbvio, tão natural este movimento...
Mas refletindo, descobri mais do que imaginava. (Embora, escrevendo, elas, de novo, me parecem tão óbvias... é que não estavam conscientes.)
Primeiro, que nós, educadores, planejando, o dia todo. Se estamos vendo TV e vimos algo interessante, ao abrir uma embalagem que sugere uma boa atividade, ao ler um livro e lembrar de uma brincadeira da infância, há muito já esquecida, ao cozinhar em casa e perceber que aquele talher especial pode ser utilizado para brincar com massinha...
Mas, formalmente, começamos sempre, planejando um novo ano. Para mim, este pensar começa ao final do ano anterior, por ocasião da avaliação. Ela me faz repensar vários aspectos a melhorar em minhas atitudes, valores, ações e relações sociais e com o saber.
Assim, ao começar o ano, já tenho algumas metas muito certas. Escrevê-las, no começo deste semestre, foi ótimo. Posso planejar a recepção das crianças, ou adaptação, mais certa de algumas condutas.
Depois, vem a organização do tempo didático, que envolve, em primeiro lugar, pensar nos objetivos gerais das diferentes áreas do conhecimento para aquela idade e como dividi-lo durante a semana. Neste momento também cabe dividir estas atividades em: atividades permanentes, seqüências de atividades e projetos.
Não dá para juntar tudo e por num caldeirão, sem reflexão. Comida feita sem experiência, fica boa na sorte. Com o tempo, toda cozinheira faz suas próprias experiências e adequa os temperos ao seu gosto, seus costumes e aos costumes e preferências daqueles que estão na casa.
Este ano aprendi a usar mais estas definições e, principalmente, estou procurando adequá-las ao meu modo do atuar, aos valores da escola e às preferências das crianças.
Assim, refazer o planejamento semanal é quase uma regra. Começamos o ano achando que vai dar para cumprir aquele primeiro, mas ninguém sabe o gosto do outro sem conhecê-lo direito e nem se vai ser possível cozinhar lagosta todo dia. Às vezes é melhor fazer um bom, mas prático, filé grelhado. O que importa é o sabor e o resultado!
Escrever as seqüências e projetos de estudo é o próximo desafio! É preciso ter clareza de onde se quer chegar. Assim, um primeiro percurso de estudo pode ser traçado. Na verdade, ele é mais um guia do que um manual. De novo, refazê-lo é praticamente a regra. Replanejar. Reorganizar a rotina semanal para que esta mesma pesquisa pode ser viável. Registrar e revisitar, com e sem as crianças estes registros.
Fica claro, para mim outro ponto: é preciso saber “jogar fora”, no bom sentido, idéias que vão se mostrando inviáveis ou que podem ser deixadas de lado em prol de algo mais importante, ou do próprio tempo didático. Para mim, isto fica claro, quando consigo explicar para as crianças porque desta decisão de exclusão. Sinal da certeza da minha decisão, de que foi bem refletida e internalizada.
Ainda acho que posso melhorar muito meus registros. Quero encontrar um meio de compartilhá-lo mais, pois, apesar dele ser meu instrumento de reflexão, a troca que ele propicia enriquece o trabalho. Funciono muito bem dando e ouvindo opiniões.
Por último, acho que vem o planejamento e replanejamento diário, no sentido de que, é muito comum chegar na escola com atividades planejadas e, por uma série de motivos, ao por o pé na sala, ter que modificar tudo! Às vezes é preciso até replanejar uma atividade no decurso da mesma!
Há alguns anos, neste caso, eu faria o óbvio: daria atividades que sei que são legais, mas que caberiam em qualquer situação: desenho, pintura, leitura de história, massinha... Ainda posso me valer das mesmas, mas já não as julgo como antes, pois são atividades que merecem atenção, observação e planejamento mínimo. Assim, procuro manter objetivos em foco: se vou dar desenho, qual o próximo passo que este grupo precisa dar nesta atividade?; se for massinha: qual é o desafio para esta idade, agora, ao modelar?; ao contar uma história: que tipo de texto posso trabalhar? Posso garantir repertório neste momento?; etc. Aprendi a ter atividades planejadas na manga, que servem para estes momentos, garantindo alguns objetivos.
Todos, sem excessão, sonham e, por isso, fazem planos. É parte da vida. Mas, para o educador, planejar é como respirar: necessário e acontece o tempo todo!

Denise Pinhas

domingo, 3 de agosto de 2008

OLIMPÍADAS: UM DESAFIO, UM PRAZER

(Arremesso de legumes)


Quem é que nunca passou, pelo menos alguns momentos de sua vida, grudado na tela da TV, torcendo pelo Brasil numa Olimpíada?
Essa é uma época que mexe com as nossas emoções e nosso espírito nacionalista (mesmo que isto não seja necessariamente nacionalismo...).
Nestes momentos significativos da história e aos quais todos da sociedade acabam envolvidos de alguma forma, uma visão aberta cabe ao educador.
Grandes eventos, como eleições, Guerras, desastres mundiais, Copa do Mundo e Olimpíadas, mobilizam e sensibilizam. O mundo pára.
Porque, então, deixar nossos pequenos da Educação Infantil sem entender exatamente do que todos estão falando? Os Jogos Olímpicos propiciam o contato com diferentes conteúdos, sejam eles planejados ou não pelo professor.
É prazeroso usar jornal, revistas e a Internet de maneira tão significativa em sala de aula, afinal, precisamos saber a programação da TV, o quadro de medalhas, o nome de nossos atletas, as fotos e comentários curiosos sobre as chances brasileiras. Aos poucos, os alunos começam a procurar sozinhos estas informações, para torcer e compreender melhor as regras de esportes antes desconhecidos, como esgrima, marcha atlética e maratona.
O uso de portadores de textos ganha um peso real que muito poucas vezes é conseguida com naturalidade e espontaneidade.

“- Será que já o Daniel Hernandes conseguiu a medalha de bronze no judô? Quando eu saí de casa ainda não sabia o resultado...”
“-Que tal a gente ir olhar na Internet? Lá já deve ter o resultado.”

E as histórias da mitologia grega, então, que estão diretamente relacionadas com este evento? Um sucesso! Assim, além de mais em gênero textual ser introduzido, de falarmos de História da civilização, os heróis e deuses gregos auxiliam a turma a melhorar seu traço, pois todos querem saber como desenhar Zeus, Hércules, a Hidra de Lerna...
Calcular quantas medalhas faltam para o Brasil ultrapassar sua marca de Sidney, observar gráficos e tabelas de jogos, pensar como Robert Scheidt conseguiu ser campeão, chegando em sexto na última regata... Matemática a serviço dos pequenos torcedores!

“- Vamos brincar de atletismo?”

Num passe de mágica, na brincadeira que imita a verdade, estão trabalhando os fundamentos físicos: saltar, arremessar, pular, rolar, correr, chutar...
Poder olhar o mapa, descobrir como nosso país é tão grande, a Grécia tão pequena... É um país rodeado de mares, puderam entender isso na Festa de abertura...
Também a abertura propiciou grandes momentos de discussão, reflexão:
“- Meu pai me disse que a Coréia é um país dividido por uma guerra, mas que desfilaram juntos. Legal, ? Por que não se juntam de novo?”

“- Viu que o Iraque, que teve a guerra, foi muito aplaudido?”
“- Nas Olimpíadas os países do mundo todo disputam jogos, brigam por uma medalha, mas é uma festa legal, por que não é brigando”
“- É uma festa da paz!”

Mas... o que tem de tão mágico ao conversar dos outros países?
Durante os jogos, muitas vezes conversamos sobre atletas que não eram brasileiros e sobre outros que nem ganharam nada. As crianças puderam admirar o esforço e a superação e foi interessante poder passar esta conclusão para o seu dia-a-dia:

“- Mais legal que ser melhor que os outros é conseguir ser melhor do que já fui antes.”

Tudo isso poderia ter passado em branco, ou poderia ter sido trabalhado com superficialidade. É aí que o olhar e a sensibilidade do professor pelo interesse da turma faz a diferença. Medalha de ouro para o conhecimento!


Denise Pinhas Pereira



obs.: este texto foi escrito logo após as Olimpíadas de Atenas, em 2004.


sábado, 2 de agosto de 2008

Reflexão: o sal da ação


“ ... o importante é que a reflexão seja um instrumento dinamizador entre prática e teoria. Porém, não basta pensar, refletir, o crucial é fazer com que a reflexão nos conduza à ação transformadora, que comprometa-nos com nossos desejos, nossas opções, nossa história.”
“Mediados por nossos registros armazenamos informações da realidade, do objeto em estudo, para poder refleti-lo, pensá-lo e assim aprendê-lo; transformá-lo; construindo o conhecimento antes ignorado.”


(Madalena Freire)